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«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





16 outubro 2008

A educação vai de carrinho

Ao dar uma negativa a um aluno que nada faz nem sequer livros traz para as aulas o professor está, de facto, a dar uma negativa a si próprio, negativa essa que pode custar-lhe o emprego.
Os alunos já perceberam que são os reis da escola, são os alunos quem manda.
Os professores estão, neste momento, reduzidos a autênticos palhaços nas mãos dos piores alunos que têm que ser todos aprovados mesmo que não saibam ler uma linha, sob pena de o professor perder o emprego em 2 anos.
Foi isto o que estes indivíduos fizeram ao ensino e ao país.
Um crime de lesa-Pátria com o único intuito de modificar estatísticas.
Não se ensina nada, não se aprende nada, nem isso é importante para coisa nenhuma. Há é que produzir papelada para inglês ver. E os alunos cada vez mais analfabetos e os professores cada vez com menos tempo para os ensinar.
Pagaremos durante gerações o que estes indivíduos estão a fazer ao país. Uma geração de estúpidos está a ser fabricada com todo o esmero nas escolas básicas.
E riem-se. E desdenham de quem se esforça por lhes ensinar alguma Luz da Ciência.
E cada vez são mais.
Uma onda avassaladora de miúdos absolutamente estúpidos está a assaltar as escolas.
De onde vêm? Porque ficaram assim? E porque é que são cada vez mais?
São perguntas para as quais não imagino uma resposta sólida.
A única que me ocorre é que eles percebem que não têm que trabalhar absolutamente nada para terem sucesso, no final do ano. Ai do professor que os chumbe! E é isto o que está a acontecer.E isto paga-se.
Uma geração de gente impreparada que mal sabe ler e não entende minimamente o que lê está a ser mandada para o mercado de trabalho.
Substitui-se um grau académico sério por uma palhaçada a que se chama novas oportunidades.
E dão-se computadores aos maiores marginais.
Que os exibem nas aulas para as quais não trazem material.
E acedem à net para revolverem tudo o que é lixo inimaginável. O computador oferecido com os nossos impostos aos turistas das escolas serve-lhes evidentemente para tudo menos para algo que seja útil.
Crianças de 12 anos utilizam os portáteis e-escola para aceder a pornografia livre. Nenhum filtro funciona na net, como é sabido.
Que imundice esta em que se tornou este país...E ninguém se revolta. Ninguém diz nada.
Como no tempo do fascismo, não se fala em coisa nenhuma por mais aberrante que ela seja. Triste país e triste povo absolutamente demitido de todos os ideais que troca a escola pelo estádio de futebol.
Quem, neste momento, critica os professores não faz a mínima ideia do que é o terror de ter que aguentar com dezenas de miúdos arrogantes que, a coberto do novo ECD, se estão a tornar refinados pulhas aos 14 anos de idade, a escarnecerem de quem lhes tenta ensinar alguma coisa.
E no final do ano o professor TEM MESMO que os passar se não quiser ser avaliado com um insuficiente e não perder o sustento da família.
Esta ministra da educação, com a cobertura deste desgraçado primeiro ministro constituiu-se como a maior predadora do Ensino, da Educação e do Conhecimento nas escolas públicas.
É evidente que os maiores prejudicados são os bons alunos - que ainda os há - que, com este novo clima de terror imposto na escola pública, deixaram de ter professores minimamente empenhados em ensinar-lhes o que quer que seja, porque os 90 minutos de cada aula são integralmente passados a mandar calar os marginais e a tentar minimizar a chavasquice em que eles transformam sistematicamente cada aula.
Fora da sala, o tempo quer deveria ser dedicado à preparação de aulas não é suficiente para o preenchimento das 2 mil grelhas que constituem o processo de avaliação de cada professor. É que, se a sua nota não for Suficiente num somatório de centenas de parâmetros em que em lado nenhum se tem em conta o esforço pedagógico do professor (apenas o esforço burocrático em construir portfolio), este professor perderá o seu emprego.
Portanto, como disse acima, neste momento a única coisa com que o professor não pode perder tempo é com ensinar.
Os bons alunos, com pais ricos e nas grandes cidades, irão rapidamente para os colégios onde os maus alunos nem sequer têm entrada.
Esses serão 3%. E os outros 97%? Vão para onde?
Cá os aguardo...
(adaptado de um texto brilhante do João Tilly)

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