A enclavar desde 2005

«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





26 janeiro 2010

Limites

Todos temos os nossos limites relativamente a qualquer aspecto.
Sobre o apoio e a ajuda, no fundo sobre a dedicação e o amor, dei por mim a pensar como somos limitados. No fundo, os nossos limites, próprios da condição humana, impedem-nos de ir mais além, de levar para casa quem tanto necessita de um lar.
Um jovem de 16 anos que além de problemas de desenvolvimento (mal sabe ler), sofre de obesidade e tem uma progenitora (recuso chamar-lhe mãe) que o mantém numa falsa expectativa permanente, ao ponto de ser preferível não o contactar.
O moço (guloso de primeira), guarda quase todos os chocolates que lhe dão, para presentear a mãe, nas suas raras e fugazes visitas. Esta delicia-se à frente do menino, sem lhe oferecer um carinho em troca.
O jovem-menino não tem noção do papel que as mães devem desempenhar. Aliás, um qualquer companheiro da mãe, é visto por ele como um pai, chegando a chorar se esse outro estiver doente.
Tanto carinho, tão pouca maldade, uma visão romântica da vida, uns carritos de brincar e um sorriso imaculado num corpo de 1,70m e mais de 90kg.
Em muitas alturas apetece ir ao limite e levar para casa este, o irmão, outro pequenote, a tantos outros...
Contar-lhes uma história ao adormecer, passando as mãos no cabelo, abraçar com a força com que se abraça um filho, em gestos de carinho sem limites.
Mas não, porque o dinheiro já não dava para tantas coisas (supérfulas, na maioria), porque o tribunal não deixava, porque um dia poderia ter problemas, porque não seria justo para tantos outros que pediram e pedem para os adoptar, enfim, porque seria complicado (como está na moda dizer).
De volta ao mundo real, vou dando mais umas guloseimas ao menino, levando brinquedos, passando a mão no cabelo, abraçando (ainda que timidamente), levando-o a dar uma voltita no meu carro, conversando sobre trivialidades, fazendo de um desenho banal num pedaço de papel ou de um calendário de 1996, prendas sublimes dignas de um rei, tal é o carinho com que me presenteia.
No fundo, tento disfarçar os malvados dos meus limites.
Esta fragilidade faz-me revoltar com a condição humana a que a maioria de nós está votado. Sim, a maioria, pois outros (poucos), esses ultrapassam os limites e certamente não passam por momentos de angústia igual ao que me levou a escrever este desabafo.
Mas quero acreditar que minimizar as carências de muitos é tão importante como transformar a vida de um ser humano, por isso... mãos à obra!
Malditos limites!!!

7 comentários:

Santa disse...

Também por isto te admiro.
É necessária muita coragem para além de todo o amor e dedicação, para lidar com o mundo real com que lidas todos os dias.
Como alguém dizia: "Felizes dos que sofrem, porque têm coração!"
Também tu o tens e é bem visível.
Força Amigo.

Abraço

JALG disse...

Gostei imenso deste post e identifico-me muito com ele. Quem trabalha na área social corre o risco de passar por estas questões com a sensação que tem as mãos atadas e pouco pode fazer. Mas como costumas dizer: FORÇA!

JPG disse...

Temos dias assim...

Uma coisa podem ter a certeza, a rede social é cada vez mais importante para que as pessoas menos favorecidas se integrem na sociedade e vocês por diversas vezes estiveram (e estão) disponíveis para dar a mão a esta rapaziada, ainda que nem todos tomem o rumo que pretendíamos.

Abraço.

ag disse...

sinceramente nao sei o que dizer,porque todas essas situações me revoltam profundamente.com os nossos que têm tudo e mesmo assim não queremos que lhes falte nada imagino ainda que superficialmente o que deve ser trabalhar com essas situações dia após dia e ver que o pouco que lhes dás para eles é mais do que aquilo que pediram. agora é aminha vez de "ralhar" contigo:tens que correr não é só ir para a frente e quem defende(a eles).um grande abraço.força aí.

Elisabete disse...

Concordo!!

JALG disse...

Encontrei esta pequena fábula e lembrei-me deste teu post:

FAZER A SUA PARTE

"Há um grande incêndio na floresta. Todos os animais fogem, assustados. No entanto, um minúsculo passarito, o beija flor (colibri), vai carregar o biquito com água e despeja-a sobre o incêndio. Um dos outros animais em fuga interpela-o : és mesmo tonto, estás a tentar apagar o incêndio ?
Responde-lhe o beija-flor : não, estou só a fazer a minha parte".

JPG disse...

É isso! Vivam os beija-flor!