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«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





19 janeiro 2011

Cérebros privados (de valores morais)

Durante anos ex-directores regionais de educação, ex-deputados e outras pessoas influentes no meio político, conseguiram abrir colégios privados (que rapidamente transformaram em semi-públicos).
Ou seja, colocavam lá os professores que queriam, sem concursos nacionais, efectivavam alguns e punham outros a circular de 3 em 3 anos para não terem que os colocar nos quadros.
Com os subsídios que o Estado (todos nós, portanto) dava, iam comprando autocarros novos para fazer o transporte dos alunos, pianos para embelezar os átrios, dotavam os espaços com plasmas, pinturas diferenciadas e outros aspectos relevantes para quem lá estuda e respectivos encarregados de educação.
Obviamente que a vertente pública apenas aparecia na hora de receber os subsídios (em alguns casos, mais de 100 mil euros por turma - valor acima da média do ensino público), pois nos restantes casos, inclusivamente a admissão de alunos ou os aspectos disciplinares, eram tratados como um colégio privado.
Recusavam a admissão de alunos por alegada falta de capacidades intelectuais, expulsavam (naturalmente para as escolas públicas) os alunos mal comportados e tentavam coagir a transferir de escola, mudar de curso, matricular noutros estabelecimentos... enfim, seleccionavam como podiam a sua "elite".
Obviamente que os papás ficavam contentes por as coisas funcionarem bem, ou seja, era como varrer o "lixo" para a porta do vizinho. Obviamente que tratando-se de pessoas, corrigi-las, encaminhá-las e apoiá-las custa caro aos colégios (no ordenado a psicólogos e na imagem menos favorável).
Nos últimos anos a escola pública não tem dinheiro para pagar o papel higiénico, ou para pagar a internet (escolas do 1º ciclo, principalmente), não tem dinheiro para contratar professores da educação especial ou de apoio pedagógico para os meninos com necessidades educativas especiais, mas em compensação, os colégios continuavam a construir pavilhões novos e a criar uma imagem de luxo nos corredores e salas de aula.
Parece que agora chegou a vez de fecharem a torneira aos colégios privados (muitos em espaços geográficos rodeados por escolas públicas "às moscas") e é ver os ex-directores regionais de educação, poderosos membros do Clero e ex-deputados a incentivarem os alunos e os pais a manifestarem-se em defesa dos seus colégios, quando nunca se preocuparam com os cortes na escola de todos.
Cambada de egoístas e acéfalos que não falham a uma "iniciativa S.O.S." e que se deixa levar nas cantilenas de quem sempre esteve habituado a conseguir o que queria através dos jogos de influência que as suas posições sociais (e políticas) permitiam.
Pessoalmente, concordo que haja também ensino privado, mas A PAGANTES, como na saúde. Afinal se compararmos o Hospital dos Covões com o Centro Cirúrgico, apenas terão em comum a freguesia onde se encontram, pois o luxo, a modernidade e principalmente o preço a pagar, nada têm de semelhante.
Durante décadas houve colégios privados em que os pais pagaram para os filhos lá estudarem (acham que o Rainha Santa fechará? Ou o João de Deus? Ou o S. Teotónio? Ou dezenas de outros pelo país? Não! Porque os directores são poderosos, os pais também e em última análise, não se importam de pagar).
Claro que esses nunca fecharão, mas se querem que os filhos andem em colégios, PAGUEM, pois quando querem uma consulta ou um internamento no sistema privado, TAMBÉM PAGAM (e não bufam!).
A título pessoal, são esses os valores egoístas que querem transmitir aos vossos filhos? "Desde que eles se safem, os outros não importam!" Que sociedade é esta em que os pais transmitem aos filhos que não interessa o bem comum, desde que nós estejamos no "bem bom"?

Estou à vontade para falar pois conheço minimamente a realidade do ensino público e privado e tenho um filho a estudar no ensino público, apesar de felizmente (em parte por ser apenas um) ter meios financeiros para o trazer num colégio privado.

3 comentários:

Unknown disse...

Não podia estar mais de acordo, subscrevo tudo aquilo que foi dito. Sequerem colégios privados que PAGUEM, e deixem os impostos de todos os portugueses ser aplicados onde realmente fazem falta e não irem parar ao bolso dessa cambada de corruptos e gananciosos.

Anónimo disse...

Concordo que o negócio deu muitos milhões de lucro para os bolsos de muita gente, não só ex-deputados, viuvas de ex-deputados, politicos em geral, mas também para Ordens Religiosas ( S.Teotónio, S.José, Rainha Santa, etc, etc,etc,...) que só vêm dinheiro para ai sim terem autocarros, actividades de elite como ballet, dança etc.... Portanto, acho uma medida bem tomada oelo Governo, promulgada pelo Sr. Presidente da Republica, que numa vergonhosa iniciativa de campanha eleitoral, incentiva e afirma aos pais e alunos frequentadores desses colégios que se devem manifestar e que vai pedir ao PSD/CDS que volte a presentar uma iniciativa parlamentar para revogar esse decreto que ele hà tão pouco tempo promulgou.Que raio de honestidade é esta que tanto apregoa.
Já agora e porque me parece justo dize-lo nada têm a ver por exemplo o instituto de Souselas e Lordemão e Ançâ com os colégios citadinos que são um sorvedor de dinheiro público e onde só efectivamente têm andado os filhos dos Sr. Doutores e politicos da nossa praça, mas que com certeza continuarão a andar porque para eles o dinheiro continuará a não ser problema.

JPG disse...

Bem dito!

Colocar tudo no mesmo saco é errado.

Um dos pontos que me levou a escrever sobre este assunto, teve a ver com a atitude dos pais e alunos, mais activa que os utentes da escola pública que viram largas centenas de escolas encerradas e o Director passar a sê-lo mas de um mega-agrupamento com milhares de alunos, onde não tem qualquer proximidade nem conhecimento de quem supostamente dirige.

Mas nós os Tugas, somos esquisitos...