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«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





30 outubro 2013

Governo quer que professores façam prova a matemática e português

Se é verdade que às vezes fico abismado (para não dizer outra coisa), quando algumas colegas de profissão não sabem calcular uma percentagem ou fazer uma "regra de 3 simples", da mesma forma me levantam os pêlos ao ler algumas actas ou ver acentuação errada ou advérbios de modo mal aplicados.

A verdade é que o português vai-se sempre praticando, enquanto a matemática pode mesmo ficar por lá, completamente esquecida.

O ministro da educação não quer continuar a ter professores que nunca tendo positiva a matemática (na época, obrigatória até ao 9º ano), tenham seguido a área "de letras" e se tenham licenciado, sendo docentes do 12º ano, por exemplo, sem terem conhecimentos mínimos de matemática.

Estou à vontade para falar, pois além tive matemática consecutivamente até à Universidade (inclusivamente cadeiras anuais comuns às engenharias - Análise Linear e Geometria Analítica ou Matemáticas Gerais), de resto, que me conferem habilitação própria para lecionar a disciplina até um determinado ano de escolaridade.

Quanto ao Português, acompanhou-me até ao 11º ano (na época só tínhamos 3 cadeiras no 12º ano e as minhas foram Matemática, Química e Biologia).

Não tendo eu interesse pessoal nesta decisão governamental (até porque, ao que parece, apenas se vai aplicar a quem ingressar na carreira - desde logo muito poucos, como sabemos pela ausência de vagas), congratulo-me pelo aumento no rigor da escolha dos profissionais que integrarão os quadros do Estado.

Mas, nestas coisas há sempre um mas, não se deveria generalizar este rigor e exigência a mais áreas???

Então os juízes (à partida licenciados em direito e a maioria deles com matemática apenas até ao 9º ano e eventualmente com reprovações à disciplina), bem como procuradores e outros magistrados não deviam também eles dar provas de ser capazes de perceber que 20% corresponde exactamente a 1/5???

Então os médicos não deviam saber converter centilitros para mililitros e ajustar as dosagens ao peso das crianças (como aconteceu no hospital pediátrico antigo, onde uma médica estava amostrar tantas dificuldades em fazer estes cálculos que resolvi intervir. Perguntou-me se eu era professor e como respondi afirmativamente, teve a humildade de me pedir para lhe explicar. Com um papel e uma caneta, lá fiz um esquema e 2 ou 3 exemplos. Resolveu ir chamar duas colegas - pelos vistos aquela dificuldade era comum - e pediu-me que repetisse a explicação).

A estas classes profissionais, nem se questionam os conhecimentos, pois "eles têm que meter muitas coisas na cabeça - coitados", ou então "era o que mais faltava, quer saber mais que o médico? ou que o Sr. Doutor Juiz?".

Já para não falarmos que os primeiros podem sempre pedir aos enfermeiros que confirmem a dosagem e os segundos solicitar um perito (pago por nós ou por quem meteu a acção em tribunal) para esclarecer algumas dúvidas (muitas delas de lana-caprina). 

Falta-me falar dos políticos (muitos licenciados em Direito ou História), não teriam também eles que fazer provas a Português e a Matemática??? Atendendo às contas mal feitas que se vão vendo e à forma como é produzida legislação - em que há decretos perfeitamente inatingíveis e despachos com erros de semântica clamorosos, assessores, adjuntos, ministros, secretários de estado, deputados, vereadores e muitos outros técnicos municipais e de entidades públicas, deviam fazer uma reciclagem aos seus conhecimentos.

Claro que já nem se pode exigir provas de aptidão para acesso aos cargos, pois aí os "boys" não conseguiriam entrar e ainda corríamos o risco de ter pessoas em lugares importantes, com conhecimentos para desempenhar as suas funções correctamente e isso seria imperdoável, como sabemos.

É comumente aceite que o professor tem que saber tudo e de tudo. Até em conversas entre amigos me apercebo disso (como se não houvesse áreas de especialização dentro da docência).

Evidentemente que quem forma os advogados, engenheiros, médicos ou juízes, são os professores, mas daí a exigir conhecimento e não se reconhecer o mérito e o papel na sociedade, vai uma incongruência, digo eu...

1 comentário:

Elisabete disse...

Só se lembram dos profs! Muitos profissionais de várias áreas bem que precisavam de fazer esses exames. Enfim!!!