Durante
anos, ex-directores regionais de educação, ex-deputados e outras pessoas
influentes no meio político, conseguiram abrir colégios privados (que
rapidamente se transformaram em estabelecimentos de ensino cooperativo).
Colocavam
lá os professores que queriam, sem concursos nacionais, efectivavam alguns e
punham outros a circular de 3 em 3 anos para não terem que os colocar nos
quadros. Criavam regulamentos internos com características muito específicas e
geriam como entendiam cerca de 130 mil euros por cada turma (verba patrocinada
pelo Estado e bastante acima da média do ensino público – 95 mil euros).
Com
os subsídios que o Estado (todos nós, portanto) dava, iam comprando autocarros
novos para fazer o transporte dos alunos, pianos para embelezar os átrios,
dotavam os espaços com plasmas, obras de arte nas paredes com pinturas
diferenciadas, obviamente aspectos relevantes para quem lá estuda e respectivos
encarregados de educação.
A
vertente pública apenas sobressaía na hora de receber os subsídios, pois nos
restantes casos, inclusivamente a admissão de alunos ou os aspectos
disciplinares, eram tratados como se de colégios privados se tratasse. São falados
casos de recusa de admissão de alunos por alegada falta de capacidades
intelectuais, expulsões (naturalmente para as escolas públicas) de alunos mal
comportados e tentativas de coação para transferir de escola, mudar de curso,
matricular noutros estabelecimentos... enfim, seleccionar a sua
"elite".
Alguns
nem sempre mostraram muito respeito pelos superiores interesses das crianças e
jovens, imitando quem varre o "lixo" para a porta do vizinho.
Obviamente que tratando-se de pessoas, corrigi-las, encaminhá-las e apoiá-las sai
caro aos colégios (vencimentos a psicólogos e/ou outros técnicos além da imagem
sofrer com a permanência de meninos que nem
parecem de colégio).
Nos
últimos anos a escola pública não tem dinheiro para comprar papel higiénico, ou
para pagar a internet (escolas do 1º ciclo, principalmente), não tem dinheiro
para contratar professores da educação especial ou de apoio pedagógico para os
meninos com necessidades educativas especiais, mas em compensação, os
colégios continuaram a construir pavilhões novos e a criar uma imagem de luxo
nos corredores e salas de aula.
Parece
que agora chegou a vez de “reduzirem o caudal da torneira” aos colégios
privados (muitos em espaços geográficos rodeados por escolas públicas "às moscas")
e é ver os ex-directores regionais de educação, poderosos membros do Clero e
ex-deputados a incentivarem os alunos e os pais a manifestarem-se em defesa dos
seus colégios, quando nunca se preocuparam com os cortes na escola de
todos.
Concordo
que haja ensino privado, mas a pagar,
como na saúde. Afinal se compararmos o Centro Hospitalar de Coimbra (Covões)
com o Centro Cirúrgico, apenas terão em comum a freguesia onde se encontram,
pois o luxo, a modernidade e principalmente o preço a pagar, nada têm de
semelhante. Quem quer que os filhos frequentem o ensino privado, não deverá pagar, pois quando querem uma
consulta ou um internamento no sistema de saúde privado, também pagam (e não bufam!).
Durante
décadas houve colégios privados em que os pais pagaram para os filhos lá
estudarem (acham que o Rainha Santa fechará? Ou o João de Deus? Ou o S.
Teotónio? Ou dezenas de outros pelo país? Não! Porque os directores são
poderosos, os pais também e em última análise, não se importam de pagar).
Alguns
encarregados de educação que não falham a uma "iniciativa S.O.S.",
preferem olhar para o seu umbigo e apoiar quem sempre esteve habituado a
conseguir o que queria através dos jogos de influência que as suas posições
sociais (e políticas) permitiam. Que sociedade é esta em que os pais transmitem
aos filhos que acima do bem comum, estão os nossos interesses pessoais? São
esses os valores egoístas que querem transmitir aos vossos filhos? "Desde
que eles se safem, os outros não importam!".
Os donos do Colégio de S. Martinho fotocopiaram a página do jornal em tamanho A3, sublinharam as frases mais marcantes e afixaram por lá, destacando igualmente o meu nome, enquanto autor.
Cheguei a receber telefonemas a ameaçar com tribunais, pois o marido de uma das ex-directoras regionais de educação foi juiz.
Perante alguns olhares de soslaio, mas também alguns cumprimentos parabéns pela coragem, fiz como o cavalo do 4 de Julho (na América, claro).
Há cerca de um ano, num evento de cariz académico estive à conversa com o autor do estudo - Doutor Rochette que me contou ter sido ameaçado fisicamente por alguns pais e outras pessoas interessadas em que o regabofe continuasse.
Ele tinha conhecimento do episódio que me envolveu e até agradeceu finalmente encontrarmo-nos e podermos trocar opiniões.
Pior do que os donos destes colégios, que conseguem lucros fabulosos às custas dos contribuintes, pior que os professores e funcionários que lá trabalham que apenas lutam pelo seu posto de trabalho, pior que os dirigentes políticos deste país que insistem em beneficiar os grupos económicos (onde terão interesses pessoais a médio/longo prazo), são alguns pais!
Muitos deles professores do ensino público e todos eles muito defensores do estado social e dos serviços públicos, mas na hora de escolher... o conforto acaba sempre por prevalecer às ideologias e aos valores morais.
Por cada criança que estuda num destes estabelecimentos, são milhares de euros que ajudam a enriquecer os seus donos, à custa de depauperar a escola pública - que se vai degradando até ser completamente imprestável.
Fazer mais alguns quilómetros por dia e ter mais participação (leia-se trabalho) no acompanhamento do seu filho afinal não são coisas assim tão más, quando está em causa o futuro da educação em Portugal, a justiça e no fundo, a riqueza de cada um de nós.
Continuo a defender que haja ensino privado, mas que sejam os pais dos alunos que o frequentam a pagá-lo!
P.S. - para quem não sabe, o feriado dos E.U.A. comemora-se a 4 de Julho (dia da independência em que ocorrem inúmeros desfiles) e há uma expressão que se utiliza por lá "cagando e andando como o cavalo no 4 de Julho"
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