A enclavar desde 2005

«São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim, porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.»
Professor Agostinho da Silva





23 fevereiro 2015

A vida, essa marota!!!

As pessoas só desaparecem quando o último dos seus Amigos se esquecer delas. 

Então, enquanto eu viver, a minha T. C. não desaparecerá!!!

O meu "bairro", a minha rua, o meu mundo, hoje despertou triste e mais pobre: a T. C. já não mora na casa dela.

Nunca pensei que este dia chegaria. Há pessoas que se instalam na nossa vida e que julgamos eternas.

Octogenária apenas das sobrancelhas para baixo (como bem diz), faz inveja a muitos letrados pela sua cultura, sapiência e gosto pelo saber. A leitura sempre fez parte do seu quotidiano e serão poucos os assuntos sobre os quais não consiga manter um diálogo onde demonstre opinião conhecedora e ponderada.

Uma trombose incapacitante (só não foi mais porque a sua força interior a fez reagir) antes de completar 40 anos de vida, terá contribuído para a decisão de deixar o seu lar onde viveu mais de meio século e onde estão quase todas as recordações de uma vida.

A dedicação extrema ao problema de saúde do marido, não impediu que ficasse viúva aos cinquenta e muitos anos. Nunca se terá sentido sozinha, pois entre netas e netos, filhas e genros... a casa e a vida estiveram sempre preenchidas.

Comigo, sempre uma relação especial - confidentes, sentido de humor comum e uma referência!!!

À minha mãe, ao meu filho e a tantas outras pessoas "do bairro" a sua ausência vai fazer muita falta, mas a mim... não fará menos!

Às vezes apenas para levantar o braço, deixar uma compra, ou abrir o vidro do carro para dar um beijinho e perguntar/responder se estava tudo bem com todos.

Apesar das limitações físicas, uma miola com ovo e cebola, um bacalhau com tomate e pimento (nunca vi igual em qualquer restaurante), ou mesmo um bordado que só mãos habilidosas e mentes ágeis conseguem elaborar, lá vinham ter a minha casa.

A sua falta vai notar-se no "bairro", na rua… e na humanidade. Porque são estas pessoas que dão uma coluna vertebral e um sentido de rotação certo ao nosso mundo insano.

Mas... fico feliz porque decidiu aceitar a sugestão de uma familiar muito próxima que terá herdado bem o altruísmo dos genes, e garantidamente terá apoio e carinho de sobra. "Pipinha", és uma máquina!!!

P.S. - tocar uma sineta quando no dia 15 de Agosto, bem cedo, um grupo de "ciclistas" lhe passava à porta a tocar as campaínhas, é só mais uma das peculiaridades que sentirei falta, mas me darão motivos para sorrir

2 comentários:

Elisabete disse...

Lamento a tua perda.
Escreveste uma bonita homenagem.
Bjs

Anónimo disse...

De facto é um dos muitos dias marcantes da minha vida... sentirei a falta da "perninha" da T.C. à porta da cozinha da mãe, sinal da sua presença, sentirei a falta dos seus telefonemas "tenho um tacho de iscas feitas vem buscar". Não perguntar se a pessoa precisa mas apresentar quando sabe que sim, ela precisa... não é para todos, mas era para a T.C.! E continuará a ser, não com iscas ou com miola, mas com sabedoria e o sorriso que sempre lhe foi característico apesar de todas as amarguras da vida. Jamais esquecerei uma frase dela para umas pessoas num outro dia muito marcante para mim "...a minha família é muito pobre mas muito nobre!". Obrigada "Pipinha", beijinhos para ti e para a T.C. e as coisas mudaram e de facto é triste, mas à boa maneira dela "vamos rir que já experimentei chorar e ficou tudo na mesma"!
Mana Velha